segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Putrefação da humanização


Povoa na micose do meu cérebro
Pensamento pútrido sobre
A nefasta negra cruz
O corvo que para o caixão seduz
Mesmo aquele que deseja viver.

Envolve o corpo de rama
Cava na escura lama
Mais uma cova fria para
Outra orgia dos vermes
Que querem comer. 

Com a chegada do nutriente,
Os germes indiferentes
Enfeitam-se para o banquete;
Abastado ou desprovido  
O corpo enrijecido serve de deleite.

Porta cerrada, depois da entrada,
Cadáver de caixa fechada,
Aberto à navalha da fome;
Em carcaça tornar-se-á
Daquilo que foi homem.

Joerlândio Cordeiro



Dia Nebuloso

Hoje acordei, mas preferia estar dormindo,
Talvez preferisse não mais ter acordado.
Não há mais  motivo para minha existência:
Enterrarei no lado frio do meu coração
Aquela que por tanto tempo amei. 
Jogarei flores e rosas perfumadas,
Jogarei jasmim -- o perfume do nosso amor.
Queria ter ido contigo,
Pois assim  ficaria ao teu lado,
Para sempre amar e sentir-se  amado.
Hoje é um dia nebuloso para nós,
Tenho que enterrar uma parte de mim.
Vai em paz, minha amada;  e eu, talvez, resistirei.
Dilacerada esta parte fica;  a outra se foi.
Então o que fazer com  ela, senão enterrar?
Hoje é um dia nebuloso: fim do nosso eterno amor.

Joerlândio Cordeiro

É não é




Nem todo o poema é poesia
Nem todo o riso é alegria
Nem todo o conto é fantasia.
Nem todo o quadro é  beleza
Nem todo o choro é tristeza
Nem todo o rei é realeza.
Nem todo o silêncio é esquecimento
Nem todo o  tempo é  momento
Nem toda a dor é sofrimento.
Nem toda a fome é por comida
Nem toda a sede é por bebida
Nem toda  a palavra  é pra ser  dita.
Nem toda a  esposa é uma mulher
Nem toda  a crença é fé
Nem tudo é o que é.
Joerlândio Cordeiro


Vassala




 Mais uma vez vestida de luto
 Bruto o que assim te fez
 Arrancando mais um filho  teu
 Carregado pelo próprio rei.

Embriagada nestas trevas
Sustentada não sei pelo o quê
Despida de sua beleza
Caminha sem nada ver.

Escrava do dia e da noite
Que nem sombra consegue ter
Isolada de todos  os outros
Soturna  até o amanhecer.

A rainha branca voltou
Diferente do olho abrasador
Do insolente que teu filio arrastou
Traz-te  unguento, alivia  a dor.

Madruga com a ancila
Até o  majestoso voltar
e  de forma grandiosa
Sua cria a ela novamente dá.

Joerlândio Cordeiro


Funeral do Amor

Apaguem o sol
Empacotem a lua
Desliguem as estrelas
Calem as crianças
Silenciem os tambores
Desliguem os rádios
Tirem do leão a presa
Privem a água do peixe...
Pensava  que o amor era eterno;
Chame o coveiro,
E enterre-o  na cova  de minha dor.

Joerlândio Cordeiro