sábado, 28 de novembro de 2015

Languidez


No calabouço da alma,
Com  medo da sombra
Que assombra.
Cadeado trancado,
Preso no próprio corpo,
De ideia  oco;
Nada  resta,
No final do poço,
Além de  osso.

JSC

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

P.S.: Como Escrever Corretamente Siglas e Abreviaturas


-Use todas as letras maiúsculas:
  1. se a sigla tiver até três letras, como USP, CEF, PIS, ONU, OEA, PM;
  2. se todas as letras forem pronunciadas (com o nome de cada letra), como INSS, FGTS, BNDES, CNBB
-Com mais de três letras, formando sílabas: use só a inicial é maiúscula, como Unicamp, Embrapa, Unesco, Detran
Mais duas recomendações: em nenhum dos casos acima se emprega ponto e as siglas podem ser pluralizadas. No caso de plural, nada de imitar o caso genitivo da língua inglesa (não se lembra dele? É aquele caso que indica posse, no Inglês): não se usa apóstrofe, apenas o acréscimo da desinência ‘s’ de plural: PMs, DSTs, CDs, DVDs.
Agora, vejamos a questão das abreviações.
A abreviação, diferentemente da sigla, consiste em escrever de forma reduzida algumas palavras e expressões e encerrá-la com um ponto. Se a sílaba seguinte for iniciada por duas consoantes, ambas serão escritas e os acentos ou hífen da palavra original devem ser mantidos
Regra geral: escreva a primeira sílaba e a primeira letra da sílaba seguinte: tel. (telefone); cel. (celular); com.(comercial); séc. (século); pess. (pessoa); dec.-lei (decreto-lei).
E, como não poderia deixar de ser, lá vêm as exceções:
  • Algumas palavras são abreviadas por contração (supressão das letras do ‘meio’): Bel. (bacharel); cia.(companhia); Exa. (Excelência); Dr. (Doutor);
  • Algumas não seguem a regra e foram estabelecidas pelo uso:
    ap. ou apart. ou apto = apartamento
    cx. = caixa
    i.e. = isto é
    p.e. = por exemplo
    Q.G. = quartel-general
    S.O.S. = “Save Our Souls’’ ou Salve nossa alma, nos pedidos de socorro
Em tempo: o título Professor é abreviado seguindo-se a regra geral, portanto paramos no ‘f’ e encerramos com um ponto: Prof. e o feminino tem o acréscimo da desinência ‘a’: Profª. Pelo amor de todas as divindades, NÃO COLOQUE ‘O’ na abreviação de ‘professor’!!!
É claro que há muitas palavras que são empregadas na forma abreviadas e, igualmente, há muitas exceções, o que me leva a lembrar a você, leitor ávido por conhecimentos, que o dicionário é um aliado imbatível no caso de dúvidas neste assunto. Você pode recorrer também ao VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa), que tem uma versão online, no sítio da Academia Brasileira de Letras (www.academia.org.br).

domingo, 15 de novembro de 2015

Existem ‘mais bem’ e ‘mais mal’?


A partir da leitura do artigo da semana passada, alguns alunos me questionaram sobre essas expressões:
Não existe ‘mais bem’, é sempre ‘melhor’, não é?
Bem… não exatamente. É fato que quando estabelecemos a relação de comparação com os adjetivos bom e mau, devemos usar as formas sintéticas melhor e pior, assim:
-Esta série é boa, é melhor que a anterior.
Ou
-Este show está ruim, está pior que o do ano passado.
Coincidentemente, as formas comparativas dos advérbios bem e mal são, também, melhor e pior, como vemos nas frases abaixo:
-Eu fui bem nas provas, mas meus concorrentes foram melhor.
Ou
-Ele foi mal nas provas, mas seus concorrentes foram pior.
Nessas duas frases bem e mal funcionam como advérbios de modo e têm uma forma sintética de comparação na segunda oração.
As coisas mudam quando temos uma estrutura composta por um verbo no particípio (lembram-se? Particípio é a forma nominal dos verbos, terminado em –ado e –ido, nos casos de verbos regulares, como cantado, vendido, partido, que podem funcionar como adjetivos).
Essas formas podem ser modificadas pelos advérbios bem e mal, como em bem-vestido, mal-humorado, bem-educado, mal redigido (às vezes com hífen quando funciona como adjetivo, às vezes sem, quando funciona como verbo).
Vejamos:
-Aquela redação foi mal redigida.
-Nessa frase, mal funciona como advérbio de modo, modificando o verbo redigida.
Tudo bem até aqui?
Agora vamos estabelecer uma comparação entre os modos. Para facilitar a visualização, vou lançar mão de ferramentas da Matemática (lembram-se do trabalho com expressões?):
-Aquela redação foi (mal redigida).
(mal redigida) tornou-se um conjunto só, expressando o modo como a redação foi feita. Agora, vamos comparar esse “conjunto”, com outra redação:
-Aquela redação foi mais (mal redigida) do que esta.
Nesse caso, temos o advérbio mais intensificando a ideia do conjunto ‘mal redigida’. É diferente de termos simplesmente ‘mais mal’ = ‘pior’.
Resumindo: se tivermos estruturas com particípio, usaremos “mais bem” + particípio ou “mais mal”+ particípio. Se a comparação for apenas entre ‘bem’ ou ‘mal’, usaremos as formas sintéticas ‘melhor’ ou ‘pior’. Vejam mais exemplos:
-Este quadro está mais bem pintado do que aquele.
-Meu irmão é mais bem-humorado do que eu.
Mas,
-Ele fala bem, fala melhor do que escreve.
-Ele representa mal, atua pior do que o outro ator.

InfoEnem

sábado, 7 de novembro de 2015

É não é

Nem todo poema é poesia
Nem todo riso é alegria
Nem todo conto é fantasia.

Nem todo quadro é  beleza
Nem todo choro é tristeza
Nem todo rei é realeza.

Nem todo silêncio é esquecimento
Nem todo  tempo é  momento
Nem toda dor é sofrimento.

Nem toda  fome é por comida
Nem toda  sede é por bebida
Nem toda  palavra  é pra ser  dita.

Nem toda  esposa é uma mulher
Nem toda  crença é fé
Nem tudo é o que é.



Joerlândio Cordeiro

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Entenda os Conceitos de Gramática Normativa e Descritiva

Na escola, estudamos gramática. Não é comum ouvirmos falar em “gramáticas”, mas a verdade é que existe, sim, mais do que uma! Já ouviu falar em gramática normativa e gramática descritiva? Vamos ver quem são elas e quais as diferenças que as caracterizam.
Antes, confira um trecho da obra Sítio do Picapau Amarelo, do Monteiro Lobato, para introduzir tal discussão.
“Pilhei a senhora num erro!”, gritou Narizinho. “A senhora disse: ‘Deixe estar que já te curo!’ Começou com o Você e acabou com o Tu, coisa que os gramáticos não admitem. O ‘te’ é do ‘Tu’, não é do ‘Você'”…
“E como queria que eu dissesse, minha filha?”
“Para estar bem com a gramática, a senhora devia dizer: ‘Deixa estar que já te curo’.”
“Muito bem. Gramaticalmente é assim, mas na prática não é. Quando falamos naturalmente, o que nos sai da boca é ora o você, ora o tu; e as frases ficam muito mais jeitosinhas quando há essa combinação do você e do tu. Não acha?”
“Acho, sim, vovó, e é como falo. Mas a gramática…”
“A gramática, minha filha, é uma criada da língua e não uma dona. O dono da língua somos nós, o povo; e a gramática – o que tem a fazer é, humildemente, ir registrando o nosso modo de falar. Quem manda é o uso geral e não a gramática. Se todos nós começarmos a usar o tu e o você misturados, a gramática só tem uma coisa a fazer…”
“Eu sei o que é que ela tem a fazer, vovó!”, gritou Pedrinho. “É pôr o rabo entre as pernas e murchar as orelhas…”
Dona Benta aprovou. (…)
(Monteiro Lobato. Obra Completa. “Fábulas”, São Paulo, Editora Brasiliense)
No trecho, podemos analisar duas definições de gramática. A primeira é a que Narizinho diz que não admite certo tipo de fala e considera-o um erro. A segunda é a que Dona Benta diz que deve se adequar aos falantes. Pois bem, a gramática de Narizinho é a gramática normativa; a de Dona Benta, a gramática descritiva.
Normativo vem de norma. Isso é, a gramática normativa é aquela que aprendemos na escola como sendo a norma culta da Língua, e é utilizada na modalidade escrita formal.
Já a gramática descritiva tem como preocupação registrar a língua como ela realmente é falada. Isso não significa que ela não tenha regras ou que seja errada. Não existe linguagem certa ou errada. Existem erros dentro de uma certa convenção linguística, o que é diferente.
Como Dona Benta sugere, a língua sofre modificações em sua fala de acordo com o tempo e contexto social em que vivemos. E realmente, a gramática normativa tende a ir se modificando e se adequando à linguagem descritiva. A função da gramática descritiva é identificar todas as formas de expressão existentes e compreender quando, onde e por quem são produzidas, ou seja, realizar um estudo sociolinguístico.
O importante, para nós falantes e escritores, é identificar o contexto de nossas falas e registros para saber quando devemos usar a gramática normativa ou a descritiva.