quinta-feira, 16 de julho de 2015

Análise de Redação Nota Máxima no Enem 2014


Criança: futuro consumidor
A propaganda é a principal arma das grandes empresas. Disseminada em todos os meios de comunicação, a ampla visibilidade publicitária atinge seu principal objetivo: expor um produto e explicar sua respectiva função. No entanto, essa mesma função é distorcida por anúncios apelativos, que transformam em sinônimos o prazer e a compra, atingindo principalmente as crianças.
As habilidades publicitárias são poderosas. O uso de ídolos infantis, desenhos animados e trilhas sonoras induzem a criança a relacionar seus gostos a vários produtos. Dessa maneira, as indústrias acabam compartilhando seus espaços; como exemplo as bonecas Monster High fazendo propaganda para o fast food Mc Donalds. A falta de discussão sobre o assunto é evidenciada pelas opiniões distintas dos países. Conforme a OMS, no Reino Unido há leis que limitam a publicidade para crianças como a que proíbe parcialmente – em que comerciais são proibidos em certos horários -, e a que personagens famosos não podem aparecer em propagandas de alimentos infantis. Já no Brasil há a autorregulamentação, na qual o setor publicitário cria normas e as acorda com o governo, sem legislação específica.
A relação entre pais, filhos e seu consumo se torna conflituosa. As crianças perdem a noção do limite, que lhes é tirada pela mídia quando a mesma reproduz que tudo é possível. Como forma de solucionar esse conflito, o governo federal pode criar leis rígidas que restrinjam a publicidade de bens não duráveis para crianças. Além disso, as escolas poderiam proporcionar oficinas chamadas de “Consumidor Consciente” em que diferenciam consumo e consumismo, ressaltando a real utilidade e a durabilidade dos produtos, com a distribuição de cartilhas didáticas introduzindo os direitos do consumidor. Esse trabalho seria efetivo aliado ao diálogo com os pais.
Sérgio Buarque de Hollanda constatou que o brasileiro é suscetível a influências estrangeiras, e a publicidade atual é a consequência direta da globalização. Por conseguinte é preciso que as crianças, desde pequenas, saibam diferenciar o útil do fútil, sendo preparados para analisar informações advindas do exterior no momento em que observarem as propagandas.
Giovana opta por intitular sua dissertação-argumentativa com o título “Criança: futuro consumidor”, algo que pensamos ser incoerente com o tema que é, justamente, a publicidade infantil. Acreditamos que a criança já é uma consumidora e não o será apenas ao atingir a adolescência ou a fase adulta, pois já é um público-alvo da publicidade por meio da propaganda. Obviamente não é ela quem efetua a compra propriamente dita, já que são os adultos que compram suas roupas, seus brinquedos, seus alimentos, seus móveis dentre outros itens. Como a banca corretora do Enem não avalia títulos, pois para a banca elaboradora este é opcional, essa incoerência não prejudica em nada a nota da redação como um todo.
Na introdução, a autora contextualiza o papel da propaganda no mercado consumidor e já coloca a sua tese ao afirmar que este papel pode ser distorcido por meio de apelação que fazem com que as pessoas, principalmente as crianças, pensem que comprar é sinônimo de prazer. Deste modo, a candidata também já se posiciona contrariamente às propagandas infantis apelativas e inicia o seu desenvolvimento explicando o que seria, para ela, apelação, recorrendo de modo adequado à coletânea de textos motivadores: ídolos infantis, desenhos animados e trilhas sonoras.
A fim de comprovar o seu argumento, Giovana usa como estratégia argumentativa o exemplo da rede de fast food Mc Donald´s que utiliza, como brindes e propaganda, brinquedos como bonecas. A seguir, fazendo alusão ao gráfico da coletânea de textos motivadores, a autora cita mais um exemplo, agora do Reino Unido, de como neste país a publicidade infantil é regulamentada – proibição do uso de personagens famosos e restrição de horários de exibição – e o compara com a situação atual do Brasil, onde não há leis específicas, apenas normas. Apesar disso, a candidata deveria ter transcrito, entre parênteses, o significado da sigla OMS (Organização Mundial da Saúde), pois ela não deveria pressupor que seu leitor conheça o significado desta sigla.
No segundo parágrafo do desenvolvimento, Giovana aborda o papel dos pais nesta questão, já que o consumo pode tornar a relação conflituosa, segundo ela. A autora afirma, em seguida, que as crianças perdem a noção do limite por meio da mídia, mas nos perguntamos, como provocação, se as crianças, ao invés de perderem o limite, ainda não o têm por estarmos, justamente, em processo de formação no qual este senso de limite está sendo construído com o auxílio da família e da escola. A partir de que faixa etária podemos dizer que a criança já possui alguma noção de limite em relação ao consumo?
Neste mesmo parágrafo, a candidata já lista suas propostas de intervenções sociais, fugindo do modelo clássico de colocá-las na conclusão, algo possível que em nada prejudica seu domínio do tipo textual. Giovana sugere três soluções em três âmbitos diferentes: para ela, o o governo federal deveria formular uma legislação específica para a publicidade infantil a fim de haver uma restrição para propagandas de bens não duráveis; já as escolas, segundo a candidata, poderiam criar oficinas e distribuírem cartilhas didáticas e a família deveria, paralelamente, dialogar com seus filhos sobre o tema a fim de, na conclusão, ensiná-los a diferenciar o útil do fútil para serem analistas críticos das propagandas.
Ainda na conclusão, a autora recorre a uma citação de autoridade, Sérgio Buarque de Hollanda, para dar início ao fechamento de sua dissertação-argumentativa. Voltando um pouco às propostas de intervenções sociais, o detalhamento de cada uma delas foi fundamental para ela obter a máxima pontuação nesta competência.