sexta-feira, 29 de outubro de 2010

O ESTRANGEIRO

Sentado em um dos bancos da praça da escola em que estudava quando, ao meu lado, sentou-se um homem: barbudo, cabeludo, olhos grandes e tristes, magro, descalço, falava baixo e rouco. Depois de alguns minutos, aproximou-se um pouco mais de mim e disse:
“Jovem! Eu também fui jovem. Bem vestido! Também já fui bem vestido... Estudante! Também fui estudante. Alegre! Também já fui...” – aquilo me chamou à atenção. -- “Eu era jovem assim você como é, andava bem vestido, estudava em uma faculdade, era simpático e de sorriso frouxo, admirado por muito. Eu era feliz. Meus amigos e minha família eram tudo o que me tornava feliz. Mas tudo isso acabou”. Então ele me contou sua triste história:
Meu pai vendeu a casa em que morávamos. Nós tínhamos um caminhão do tipo baú, que servia para transporte de mercadorias; meu pai era o próprio motorista. Colocamos tudo no caminhão, despedimo-nos dos amigos, choramos muito, pois iríamos sentir saudades. Partimos. Íamos pensando como seria a nova casa. Todos estávamos cantando estrada à fora;  tínhamos muitos quilômetros à frente. Era uma viagem de três dias. Mas a alegria acabou no meio do caminho: meu pai perdeu a direção do caminhão e caímos em um penhasco. Fui arremessado através da porta e o que vi depois foi o caminhão explodindo e nada pude fazer. Quando acordei estava na cama de um hospital. Tinha ficado vários dias em coma.
Disseram-me naquele momento, após perguntar pelos meus pais, que estavam bem, mas eu tinha certeza que não era verdade, pois eu tinha visto o que tinha acontecido, tinha quase certeza que não tinham escapado e infelizmente era o que realmente tinha acontecido.
Entrei em depressão. Enlouqueci. Passei vários meses em um hospital psiquiátrico. Ao ficar de alta, sai pelas ruas: sem pai, sem mãe, sem casa, sem roupa, sem amigo... – Aquele homem olhou para mim, quando vi as últimas lágrimas rolarem em seu rosto. Deu-me um abraço, levantou-se e foi andando...andando e desapareceu entre as árvores da praça.
Não sei de onde vinha e para onde ia. Nem seu nome eu sei dizer.