quinta-feira, 4 de junho de 2015

Análise de Redação Nota 1000 do Enem 2014

 No texto de hoje, iremos analisar um desses textos a fim de gerar uma reflexão acerca do que a banca elaboradora e corretora espera de um candidato ideal.
Primeiramente, a fim de situar os nossos leitores, gostaríamos de resumir o que a coletânea de textos motivadores dessa proposta de redação do Enem traz aos candidatos.
primeiro texto é a adaptação de uma matéria publicada na página da BBC que discute a resolução do Conanda(Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente) que considera abusiva a publicidade infantil que tem como objetivo persuadir a criança ao consumo de qualquer produto e serviço ao apelar para aspectos como brinquedos, desenhos animados, linguagem infantil, trilhas sonoras, ofertas de prêmios dentre outros. O texto, além de definir o que é, para o Conanda, uma propaganda infantil abusiva, aborda os pontos de vistas favoráveis dos pais à resolução e desfavoráveis dos anunciantes, visto que estes argumentam que o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) já exerce o papel de controle e de combate a possíveis abusos.
segundo texto da coletânea de textos motivadores, por sua vez, é um texto multimodal, já que trata-se de um mapa mundial que mostra como alguns países lidam com a questão da publicidade voltada ao público infantil. Por meio de sua leitura e análise, os candidatos tomaram ciência de quais países regulamentam, proíbem (total ou parcialmente) e liberam tais propagandas e como essas ações são feitas.
Já o terceiro e último texto da coletânea de textos motivadores é uma citação adaptada de dois autores de um livro que trata sobre a questão do marketing2 infantil. Segundo a citação, a criança deve ser preparada, desde pequena, para receber mensagens do mundo exterior a fim de entender o que está por trás dessa mensagem, ou seja, o que está nas entrelinhas para que, no futuro, ela seja uma consumidora reflexiva e consciente de suas compras.
A redação que iremos analisar é de autoria de Antônio Ivan Araújo Monteiro Jr., residente do estado do Ceará. A seguir, o texto na íntegra:
A publicidade infantil movimenta bilhões de dólares e é responsável por considerável aumento no número de vendas de produtos e serviços direcionados às crianças. No Brasil, o debate sobre a publicidade infantil representa uma questão que envolve interesses diversos. Nesse contexto, o governo deve regulamentar a veiculação e o conteúdo de campanhas publicitárias voltadas às crianças, pois, do contrário, elas podem ser prejudicadas em sua formação, com prejuízos físicos, psicológicos e emocionais.
Em primeiro lugar, nota-se que as propagandas voltadas ao público mais jovem podem influir nos hábitos alimentares, podendo alterar, consequentemente, o desenvolvimento físico e a saúde das crianças. Os brindes que acompanham as refeições infantis ofertados pelas grandes redes de lanchonetes, por exemplo, aumentam o consumo de alimentos muito calóricos e prejudiciais à saúde pelas crianças, interessadas nos prêmios. Esse aumento da ingestão de alimentos pouco saudáveis pode acarretar o surgimento precoce de doenças como a obesidade.
Em segundo lugar, observa-se que a publicidade infantil é um estímulo ao consumismo desde a mais tenra idade. O consumo de brinquedos e aparelhos eletrônicos modifica os hábitos comportamentais de muitas crianças que, para conseguir acompanhar as novas brincadeiras dos colegas, pedem presentes cada vez mais caros aos pais. Quando esses não podem compra-los, as crianças podem ser vítimas de piadas maldosas por parte dos outros, podendo também ser excluídas de determinados círculos de amizade, o que prejudica o desenvolvimento emocional e psicológico dela.
Em decorrência disso, cabe ao Governo Federal e ao terceiro setor a tarefa de reverter esse quadro. O terceiro setor – composto por associações que buscam se organizar para conseguir melhorias na sociedade – deve conscientizar, por meio de palestras e grupos de discussão, os pais e os familiares das crianças para que discutam com elas a respeito do consumismo e dos males disso. Por fim, o Estado deve regular os conteúdos veiculados nas campanhas publicitárias, para que essas não tentem convencer pessoas que ainda não têm o senso crítico desenvolvido. Além disso, ele deve multar as empresas publicitárias que não respeitarem suas determinações. Com esses atos, a publicidade infantil deixará de ser tão prejudicial e as crianças brasileiras poderão crescer e se desenvolver de forma mais saudável.
Trecho de redação de Antônio Ivan Araújo. 

Confira agora uma análise parágrafo a parágrafo

Iniciaremos a análise pela introdução. O autor inicia o seu texto situando a publicidade infantil em termos econômicos mostrando que este tipo de propaganda movimenta milhões de dólares em todo o mundo. Porém, como o tema é a publicidade infantil no Brasil, essa especificação vem logo em seguida juntamente com a tese de que, em nosso país, essa discussão deve levar em consideração vários aspectos e que o governo deve regulamentar esse mecanismo, pois, ao contrário, pode haver prejuízo na formação das crianças em relação a sua saúde física e emocional. Assim, podemos perceber que o auto apresenta o tema e o seu ponto de vista ao leitor e já dá uma dica do que será a sua proposta de intervenção social, ou seja, a regulamentação por parte do governo.
Com o intuito de conectar a introdução ao primeiro parágrafo do desenvolvimento, o autor faz uso de um recurso conectivo para também referir-se à saúde física já citada anteriormente, fazendo alusão aos brindes que acompanham os lanches de restaurantes fast food (não é preciso dizer o nome da mais famosa rede desse tipo). Exemplificando como a publicidade infantil pode influenciar na questão da obesidade infantil, o autor embasa seu argumento e ainda mostra que leu a coletânea de textos motivadores cujo primeiro texto menciona brindes desse tipo. Problemas de saúde, deste modo, são uma das consequências da publicidade infantil apelativa por meio de brinquedos que acompanham comidas que não são saudáveis.
Atento à paragrafação, o autor faz uma segunda relação entre os parágrafos do desenvolvimento ao iniciar o terceiro parágrafo com “em segundo lugar”, dando sequência às suas estratégias argumentativas citando o aumento do consumismo oriundo desse tipo de propaganda, mostrando que foi além do que o terceiro texto motivador abordou. O argumento do autor é que as crianças querem acompanhar seus amigos nas brincadeiras e, por isso, pedem aos pais os brinquedos que conhecem pelas peças publicitárias e, se elas não tiverem tais brinquedos, podem virar motivo de gozação, o que acarretaria em danos psicológicos, como já fora adiantado na introdução.
Nesse parágrafo específico, há um pequeno desvio de acentuação, o que não prejudica em hipótese alguma a coesão e a fluência do texto e, por isso, assim mesmo, a nota dessa redação foi a máxima.
quarto parágrafo aborda, como já demonstrado pelo seu início, que em decorrência dessa problemática, o Governo Federal e o terceiro setor – definido pelo autor a fim de que seu leitor tome conhecimento – devem reverter esse quadro por meio da regulamentação e da punição através da aplicação de multas e da formação de consciência em palestras e grupos de discussão, respectivamente.