segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Gregório de Matos Guerra

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) e morreu em Recife (PE).
Recebeu o apelido de Boca do Inferno, graças a sua irreverente obra satírica.
Cultivou a poesia lírica, satírica, erótica e religiosa. 
Em vida, Gregório não publicou suas obras.


O poeta religioso
A preocupação religiosa do escritor revela-se no grande número de textos que tratam do tema da salvação espiritual do homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe:
Soneto a Nosso Senhor
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque quanto mais tenho delinquido
Vos tem a perdoar mais empenhado.
Se basta a voz irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na sacra história.
Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,
Recobrai-a; e não queirais, pastor divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.

O poeta satírico
Gregório de Matos é amplamente conhecido por suas críticas à situação econômica da Bahia, especialmente de Salvador, graças à expansão econômica chegando a fazer, inclusive, uma crítica ao então governador da Bahia Antonio Luis da Camara Coutinho. Além disso, suas críticas à Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subversão por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetos
Triste Bahia
Triste Bahia! ó quão dessemelhante 
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.
A ti tricou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando e, tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

O poeta lírico
Em sua produção lírica, Gregório de Matos se mostra um poeta angustiado em face à vida, à religião e ao amor. Na poesia lírico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que é constantemente comparada aos elementos da natureza. Além disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta é assaltado pela culpa e pela angústia do pecado.
À mesma d. Ângela
Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:
Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama fluorescente;
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus o não idolatrara?
Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda,
Livrara eu de diabólicos azares.
Mas vejo, que por bela, e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.

O poeta erótico
Também alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volúpia das amantes que conquistou na Bahia, além dos escândalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.
Necessidades Forçosas da Natureza Humana
Descarto-me da tronga, que me chupa,
Corro por um conchego todo o mapa,
O ar da feia me arrebata a capa,
O gadanho da limpa até a garupa.
Busco uma freira, que me desentupa
A via, que o desuso às vezes tapa,
Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,
Que as cartas lhe dão sempre com chalupa.
Que hei de fazer, se sou de boa cepa,
E na hora de ver repleta a tripa,
Darei por quem mo vase toda Europa?
Amigo, quem se alimpa da carepa,
Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,
Ou faz da mão sua cachopa.


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Onde e Aonde


ONDE é um pronome relativo e serve para ligar uma oração principal a uma subordinada adjetiva ao mesmo tempo que substitui um termo da oração principal, evitando a repetição.
Mas CUIDADO:
Ele só pode substituir um termo que indique LUGAR, ESPAÇO FÍSICO!!! Assim, não são possíveis construções como:

“A entrevista onde o ministro anunciou corte de custos repercutiu em todas as mídias”
uma vez que, nessa frase, o pronome está retomando entrevista, que não é um lugar!!!

Como sair dessa situação embaraçosa (não a entrevista, mas a construção que destoa da norma culta)? A correção mais simples e eficaz (e que pode ser usada em inúmeras situações de dúvida a respeito do onde) é substituir o tal pronome pela combinação em que, assim:

“A entrevista em que o ministro anunciou corte de custos repercutiu em todas as mídias”

Isso posto, vamos à distinção entre ONDE e AONDE!
Já sabemos que só podem aparecer indicando lugar. Agora vamos observar como se comporta esse tal lugar e aí entramos também no assunto Regência Verbal.
O pronome ONDE será usado, nas condições já mencionadas (ou seja, para referir-se a um lugar) quando, na oração, não há ideia de movimento, de deslocamento, isto é, o lugar está parado e os agentes do verbo também!

casa onde morou Machado de Assis fica em Cosme Velho, no Rio de Janeiro.”

O verbo ‘morar’ não implica deslocamento, por isso empregamos o ‘onde’. E, em caso de dúvida cruel, troque:

casa em que (ou na qual) morou Machado de Assis fica em Cosme Velho, no Rio de Janeiro.”

Se, no entanto, o verbo indicar movimento ou deslocamento, usaremos uma preposição regida (exigida) pelo verbo (por isso mencionei a tal Regência). Se o verbo indicar movimento no sentido da IDA, a preposição será A (confira o artigo anterior em que abordo os casos de crase). Veja como Manuel Bandeira brinca com o movimento, com as figuras de sonoridade (assonância, paronomásia) e usa acertadamente o AONDE:
A ONDA
Manuel Bandeira
a onda anda
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda

Assim como o poeta, empregaremos o AONDE em construções que impliquem movimento de ida:
A praia aonde costumo IR nas férias é muito linda.

Podemos também usar outras preposições antes do ONDE, como fez Zeca Baleiro nesta música:


Por onde andará Stephen Fry
Zeca Baleiro
Por onde andará Stephen Fry
Por onde andará … Stephen
Ninguém sabe do seu paradeiro
Ninguém sabe para onde ele foi
prá onde ele vai
Stephen may be feeling all alone
Stephen never do this again
come back home
Se correr o bicho pega Stephen se ficar o bicho come

Resumindo:
ONDE – sem deslocamento
AONDE – com deslocamento no sentido de IDA
DE ONDE – com deslocamento no sentido da VOLTA