quinta-feira, 4 de junho de 2020

S ou Z? G ou J? Ortografia na Redação do ENEM




O assunto de hoje será a ortografia. Algumas palavras teimam em gerar dúvidas na hora da escrita e comprometer a seriedade dos nossos textos, principalmente quando não podemos fazer uma consulta rápida na internet para sanar a dúvida de como escrever esta ou aquela palavra.
Fonte: https://www.gestaoeducacional.com.br/ortografia-o-que-e/
De acordo com Mauro Ferreira (2014), as confusões ortográficas têm origem nos primeiros textos em língua portuguesa, que eram escritos de acordo com o sistema fonético, baseado na pronúncia de algumas palavras, porém, a partir do século XVI o sistema adotado foi o etimológico, no qual as palavras deveriam ser grafadas de acordo com sua forma original, em latim.
Desta maneira, é uma situação bastante comum não saber se uma palavra é escrita com S ou Z, G ou J, tanto que os livros didáticos costumam disponibilizar um ou mais capítulos acerca do tema, ou seja, é assunto frequente na Educação Básica e por isso precisa de uma atenção maior por parte do estudante, sobretudo na escrita da redação no ENEM, já que um dos 5 critérios de avaliação do texto é justamente a ortografia.
Veja a seguir quais são os casos mais frequentes de dúvidas na escrita de algumas palavras, pratique bastante escrevendo e também lendo para não ficar inseguro na hora de produzir sua redação.

Palavras com S e Z

A – Escreve-se com S os sufixos (terminações) que indicam nacionalidade, origem ou procedência – ÊS ESA.
Exemplo: InglÊS = inglESA.
JaponÊS = japonESA
BurgÊS = BurguESA.
B– Escreve-se com S os sufixos ISA quando formam palavras de gênero feminino. Exemplos:
Masculino             Feminino
Profeta                   ProfetISA
Poeta                      PoetISA
Papa                        PapISA
Sacerdote               SacerdotISA.
C– São escritas com Z os sufixos “ez” e “eza” quando se unem a adjetivos (palavras que servem para qualificar/caracterizar) para formar substantivos abstratos. Exemplos:
Adjetivo                         Substantivo Abstrato
Rápido                                  RapidEZ
Belo                                     BelEZA
Firme                                    FirmEZA
Surdo                                      SurdEZ
Pálido                                     PalidEZ
Frio                                         FriEZA.
D – São escritas com os verbos formados a partir de palavras que já têm S na última sílaba. Os verbos formados por palavras que não têm S na última sílaba são escritos com Z. Exemplos:
  1. Verbos com S na última sílaba: análise = analisar. Liso = alisar.
  2. Verbos que não têm S na última sílaba: memória = memorizar. Oficial = oficializar.
E– O S deve ser usado SEMPRE após os ditongos (encontro de duas vogais em uma mesma sílaba). Exemplos:
NáuSea
PauSa
PouSada
CauSa
AplauSo
F– Nas formas verbais QUERER e PÔR e suas derivações emprega-se SEMPRE a letra S. Exemplos:
QuiS               PuS
QuiSessem    puSessem
QuiSemos      propuSemos
QuiSeram        compuSeram

Palavras com G e J

A – Devem ser escritas com J todas as palavras formadas a partir de outras que terminem com a sílaba “ja”. Exemplos:
Canja = CanJica
Loja = loJista
Cereja = cereJeira
Laranja = laranJeira.
B– As palavras terminadas em -ágio, -égio, -ígio, -ógio e -úgio devem ser escritas com G. Exemplos:
estÁGIO, privilÉGIO, prestÍGIO, relÓGIO, refÚGIO
C– Palavras terminadas em -agem, -igem e ugem são escritas com G. Exemplos:
viAGEM, mensAGEM, vertIGEM, fulIGEM, ferrUGEM.
Essas são as regras gerais para os usos corretos de S ou Z  e G e J. Veja também algumas palavras com essas grafias que podem causar confusão:
S: apesar, brasão, casimira, náusea, grisalho, coser (costurar), traseira, viés, fusível.
Z: baliza, deslize, cuscuz, ratazana, revezar, deslize, vazar, escassez.
G: agiota, tangerina, rigidez, vagem, viagem (substantivo), angélica, gergelim, herege, monge, mugir.
J: berinjela, jeito majestade, jiló, jiboia, laje, traje, pajé, viajem (verbo, exemplo: que eles viajem bem!)
Além dessas regras é muito importante que o estudante mantenha um hábito frequente de leituras para aprender a escrita correta das palavras, pois essa é, sem dúvida, a melhor maneira de aprender ortografia.

Infoenem

Redação Nota 1000: Possibilidades para a Redação do Enem PPL 2017


Posted: 03 Jun 2020 08:16 AM PDT
Na proposta de redação do Enem PPL (para pessoas privadas de liberdade e segunda aplicação) de 2017, mais uma vez nos deparamos com um assunto que tem grande relevância no contexto atual: a busca pelo encaixe em padrões de beleza específicos e idealizados. Relembremos o tema:

TEXTOS MOTIVADORES

TEXTO I
A beleza parece caminhar em uma linha tênue entre as escolhas do indivíduo e a imposição coletiva. Se, por um lado, cada um pode buscar a beleza da maneira que considerar melhor para si, por outro, cuidar da beleza torna-se um imperativo. Modelos funcionam como fonte de comparação social e a exposição às imagens idealizadas da mídia tem como efeito uma redução no nível de satisfação dos indivíduos com relação à própria imagem. Este processo de comparação social também influencia fortemente a autoestima do indivíduo. A percepção de uma discrepância acentuada entre o eu real e o eu ideal gera ansiedade e sentimento de insatisfação com relação ao seu autoconceito e, consequentemente, uma redução na sua autoestima. Na tentativa de atingir um ideal estético socialmente aceito, muitos se dedicam a uma luta incansável para esculpir o corpo perfeito e aproximar-se de um padrão de beleza.
FONTES, O. A.; BORELLI, F. C.; CASOTTI, L. M. Como ser homem e ser belo? Um estudo exploratório sobre a relação entre masculinidade e o consumo de beleza.
Disponível em: http://seer.ufrgs.br. Acesso em: 22 jun. 2015 (adaptado).
Texto II
TEXTO III
Os transtornos alimentares mais relevantes em nosso contexto sociocultural são a anorexia e a bulimia nervosas. A anorexia nervosa se  caracteriza pelo pavor descabido e inexplicável que a pessoa tem de engordar, com grave distorção da sua imagem corporal. Para atingir esse padrão de “beleza” inatingível, o anoréxico se submete a regimes alimentares bastante rigorosos e agressivos. Já a bulimia nervosa se caracteriza pela ingestão compulsiva e exagerada de alimentos, geralmente muito calóricos, seguida por um enorme sentimento de culpa em função dos “excessos” cometidos. Não podemos perder de vista que a formação da autoimagem corporal de cada pessoa está fortemente influenciada pela maneira como a sociedade “impõe” o que é ter um corpo esteticamente apreciável.
SILVA, A. B. B. Bullying: mentes perigosas nas escolas.
Rio de Janeiro: Objetiva, 2010 (adaptado).
PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Consequências da busca por padrões de beleza idealizados”, apresentando proposta de intervenção que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.

Desenvolvimento da redação

Os textos motivadores tratam exclusivamente de problemas relacionados à busca de padrões estéticos impostos e expostos socialmente. No primeiro, há a menção à busca  por padrões incentivados por uma exposição às redes sociais e suas imagens perfeitamente construídas (trataremos da questão dessas redes mais adiante). Na imagem que representa o texto dois, podemos ver a inconveniência da imposição de padrões no exemplo do questionamento ao casal em questão, que coloca em pauta para o relacionamento até mesmo a altura dos dois, que seriam os únicos a quem tal questionamento deveria interessar, se interessar. No terceiro excerto já conferimos algo um pouco mais específico, os distúrbios alimentares que a busca por um corpo perfeito imposto socialmente pode causar.
A partir da leitura atenta dos textos motivadores, como sempre precisamos buscar e selecionar conteúdos além deles. No caso do tema de 2017, essa tarefa pode ser bastante simples, já que há exemplos midiáticos constantes de problemas relacionados à busca de padrões de beleza. Infelizmente, há muitos casos de pessoas que sofrem com os riscos de cirurgias puramente estéticas, além daqueles que se arriscam nas mãos de “profissionais” que não poderiam realizar procedimentos estéticos que só são autorizados para cirurgiões, como o caso famoso do “Dr. Bumbum”. Pode-se mencionar também a criação das redes sociais como o Instagram e o Facebook, nas quais normalmente retrata-se uma imagem e vida perfeitas, o que, muitos teorizam, pode colaborar para a insatisfação com a auto imagem do observador.
Após a leitura cuidadosa dos textos motivadores e a seleção de itens externos para a construção e o embasamento da argumentação, é hora de construir o texto. A frase temática quer que tratemos das consequências da busca por padrões de beleza idealizados. Para tanto, pode-se retomar a questão das redes sociais, estabelecendo que, após a invenção destas, cresceu a exposição a modelos ideais de corporostocabeloaltura, etc. cuidadosamente fabricados para essa mesma exposição. Antes disso e até a atualidade, há também as mídias física e visual, como revistas e TV, que também promovem imagens específicas em relação a corpo, cabelo e rosto através de modelos com padrões de beleza estabelecidos e não muito variáveis. A partir daí, é possível relacionar os distúrbios alimentares e as buscas exageradas e prejudiciais a um padrão estético a essa exposição exagerada a modelos em sua maior parte fabricados de beleza. Sendo assim, ficam estabelecidas as consequências ruins da busca, que acaba afetando a saúde corporal e mental dos indivíduos.
Por fim, é preciso sugerir uma intervenção para o problema. Aqui é necessário um cuidado grande com a organização das palavras. Nada relacionado à censura ou regulamentação de conteúdo, tanto para as redes sociais quanto para as mídias visuais e físicas, pode ser colocado, já que pode ferir os direitos humanos e, consequentemente, zerar os pontos na quinta competência na correção. Uma boa saída seria, então, sugerir às próprias mídias e redes sociais que variem e incentivem a exposição dos mais variados tipos de beleza, além de realizar campanhas que mencionem a possibilidade das imagens veiculadas não retratarem com fidelidade a realidade, para que o público não se sinta desvalorizado ao comparar-se com ideais que, em boa parte das vezes, foram alcançados com programas de computador e/ou cirurgias plásticas e procedimentos estéticos invasivos. Detalhando-se bem a proposta, as chances de conseguir uma boa pontuação nesse quesito é enorme!
O que acharam do tema de 2017? Já se sentiram não muito bem por conta de ideais vistos em fotos em redes sociais ou na TV e revistas? Lembraram-se nestes momentos de que muito provavelmente a foto estava fortemente editada? Contem tudo pra gente nos comentários e até a semana que vem!

Infoenem

terça-feira, 5 de maio de 2020

Barroco no ENEM


A palavra barroco representa completamente as características deste estilo. Significa “pérola irregular” ou “pérola deformada” e está relacionada à ideia de irregularidade, própria das produções desse estilo artístico.
Compreender as implicações da arte barroca nas produções artísticas é essencial para responder questões na prova de Linguagens e Artes do ENEM, além de ser um conhecimento que pode agregar muito na hora de produzir sua redação, como um repertório sócio-cultural do seu texto.

Contexto Histórico

arte barroca se desenvolve na Itália, por volta de 1580, em meio a uma crise na igreja católica. A instituição buscava aumentar e recuperar sua autoridade perdida depois da Reforma Protestante promovida por Martinho Lutero. Para resolver os principais problemas causados pelo protestantismo, os membros da igreja se reuniram no Concílio de Trento, a fim de propor reformas em algumas práticas da igreja de Roma.
As ideias protestantes ganharam espaço e denunciaram muitos problemas e crimes da igreja católica, essa foi uma das mais importantes mudanças para que a Europa começasse a apresentar uma mudança de pensamento também no campo das artes.
Renascimento, vindo antes do Barroco, viabilizou uma arte mais simples e harmônica, com grande influência dos clássicos gregos e latinos, com figuras mitológicas e uma temática antropocêntrica (homem no centro do universo).
Barroco, por sua vez, posiciona-se como uma arte contrária ao que havia sido produzido no Renascimento. Era uma tentativa de difundir a fé católica e acabar com a tensão causada pela razão resgatada no Renascimento.
Alguns teóricos apontam que a arte barroca representava o momento de transição em que o mundo europeu encontrava-se, entre o teocentrismo (Deus no centro) e o antropocentrismo. Por isso, as pessoas se sentiam culpadas e confusas e a arte foi uma forma de expressar esse sentimento comum à época.

Características do Barroco

barroco é marcado pela ostentação e exagero, as grandes catedraisigrejas e capelas extremamente adornadas, bem como palácios com riqueza de detalhes são exemplos comuns da arquitetura do período.
Essa ostentação tem a finalidade de marcar a grandeza e poder das igrejas católicas, por exemplo. A intenção é que ao entrar em uma dessas igrejas, a pessoa sinta a imensidão do poder divino e perceba o quanto é pequena, por isso precisa dedicar sua devoção a Deus.
Nas artes plásticas a temática religiosa também se faz presente, com pinturas de passagens bíblicas e de santos. Nas pinturas evidencia-se o jogo de claro e escuro, no qual o pintor contrapõe partes da tela com cores mais claras e outras mais escuras, criando a imagem de luz e sombra e explorando a profundidade.
A estética barroca é rebuscada, cheia de excessos e adornos, procura valorizar os detalhes, apresenta complexidade, dualismo e sensualismo, além de contradições. Na literatura destaca-se o uso de cultismo e o conceptismo.
Alguns autores famosos do Barroco são Caravaggio (1571-1610), Bernini (1598-1680), Barromini (1599-1667) e Andrea Pozzo (1642-1709).

Barroco no Brasil

No Brasil, o Barroco foi trazido pelos Jesuítas com a intenção de difundir a arte sacra e da catequização. O marco inicial é a publicação do poema Prosopopeia de Bento Teixeira em 1601.
Os dois autores de destaque na literatura barroca no Brasil foram Gregório de Matos e Padre Antônio Vieira.
Gregório de Matos nasceu na então capital do Brasil, Salvador (BA). Com a alcunha de “Boca do inferno” foi o primeiro poeta a tratar de elementos brasileiros, do personagem típico local, produto do meio geográfico e social. Sua produção literária é dividida em poesia líricasacrasatírica e erótica.
Nos seus poemas, além de reproduzir uma grande preocupação religiosa e sentimento de culpa, o autor imprimiu também duras críticas à sociedade baiana e à própria igreja católica. Nos poemas eróticos o poeta marca a sensualidade e a volúpia das amantes que conquistou e também os escândalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.
Padre Antônio Vieira é representante do Barroco em Portugal e no Brasil. Ele nasceu em Lisboa em 1608 e morreu na Bahia em 1697, era Jesuíta e defendia os índios e os judeus, posicionamento que o leva à prisão pela Santa Inquisição da Igreja Católica. Ficou preso por dois anos, mas, por sua grande capacidade argumentativa, consegue ser defender das acusações.
Vieira escreveu mais de duzentos sermões e por isso é responsável pelo desenvolvimento da prosa barroca. Ele usa o estilo conceptista, o qual faz uso da retórica e do encadeamento lógico dos conceitos.

Barroco tardio

Cristo no Horto das Oliveiras – Aleijadinho
É importante destacar que no Brasil o Barroco teve uma representação considerada tardia, entre 1700 e 1760 aproximadamente, pois acontecia ao mesmo tempo em que o movimento arcadista se desenvolvia.
estado de Minas Gerais foi o local em que essa arte se destacou, com nomes famosos como o de Aleijadinho na escultura (Antônio Francisco de Lisboa) e o do pintor Manuel da Costa Ataíde. Além desses nomes, outros destaques estão principalmente na construção de igrejas em MG, BA, GO e RJ, que podem ser visitadas atualmente. No Rio de Janeiro, as esculturas de Mestre Valentim também constituem o patrimônio cultural do Barroco no Brasil.

Infoenem

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Redação Nota 1000: Possibilidades para a Redação do Enem PPL 2011

Seguimos nessa semana com nossas side quests do Enem! Para praticar ainda mais nessa quarentena (com todo mundo que puder em casa seguindo as recomendações da OMS e das autoridades de saúde, por favor!), tratamos hoje do tema abordado na prova PPL de 2011. Assim como nos anos iniciais do Enem regular, em 2009, 2010 e 2011 os tópicos eram de certa forma abrangentes, exigindo uma clareza de posicionamento e organização de ideias para uma argumentação de sucesso.
O primeiro texto motivador detalha a origem e o modo como o Grupo Cultural AfroReggae funciona. Já no segundo, há uma descrição dos ideais e da trajetória do sociólogo Betinho. Ambos têm vários pontos em comum: a exposição de ícones da luta social, a descrição de seus ideais e posicionamentos, bem como de suas ações sociais. Outro ponto em comum, extremamente importante para a construção da argumentação neste texto, é o fato de que ambas as instituições (AfroReggae e Betinho) pregam o desenvolvimento social através da cultura.
Observados os textos motivadores, é hora de coletar informações extras para sustentar a argumentação. Tudo o que for conhecido, tanto sobre o grupo AfroReggae quanto sobre o sociólogo, pode ser trazido como elemento de embasamento da escrita. Notícias, dados da atuação de cada um e mais detalhes além dos já trazidos pelos textos motivadores são alguns dos exemplos de possibilidades de conteúdo externo a ser inserido.
A partir daí, voltando ao ponto em comum dos dois textos motivadores e da frase temática (Cultura e Mudança Social), é necessário organizar a redação e sustentar bem o posicionamento. Para isso, um dos raciocínios possíveis pode perpassar pelo fato de que a cultura e sua difusão no Brasil são bastante deficitárias, assim como o incentivo ao desenvolvimento através de tal área. O sociólogo Betinho foi trazido como um exemplo de alguém que batalhou a vida toda por esse desenvolvimento social através da cultura, assim como o grupo AfroReggae, que mantém seu trabalho em comunidades carentes desde sua fundação, em 1993. A cultura garante acesso ao conhecimento e manifestações artísticas produzidos pela sociedade, dando ferramentas para que todos se desenvolvam intelectualprofissional e culturalmente. Por isso, o trabalho que incentiva o acesso e o desenvolvimento social através da cultura prova-se extremamente importante e iniciativas como as exemplificadas nos textos motivadores são de grande valor.
Ao comprovar a importância do acesso à cultura para todas as camadas da sociedade no desenvolvimento do tema, é possível oferecer soluções que já têm sua necessidade comprovada e não correm risco de serem consideradas “supérfluas” por algumas pessoas (acreditem, há quem ache que a cultura é desnecessária e/ou sequer conhecem sua definição e têm o mesmo posicionamento). Sendo assim, as opções de propostas de intervenção são variadas. Dentre elas, pode-se sugerir a intensificação de leis de incentivo e acesso à cultura, incluindo um maior auxílio governamental a ONGs que dedicam-se a esse tipo de trabalho. Como sempre, basta detalhar muito bem as propostas, encerrando a argumentação de forma consistente.
 Vejamos os textos:







sexta-feira, 3 de abril de 2020

Coronavírus: Xenofobia no Brasil e no Mundo


Nos últimos dias tem sido apresentado uma nova face do Coronavírus: a xenofobia. Já nos primeiros dias de caracterização do surto, uma série de hipóteses e fake news sobre o surgimento do vírus apareceram e inflaram visualizações e compartilhamentos, na internet. E comum que exames como o Enem incluam estes fatos em suas provas
É relevante fazer uma pausa e analisar, através da Sociologia, o conteúdo e a recepção dessas informações, sejam elas fake news ou não. Isso porque tais conteúdos carregam preconceitos e imagens estereotipadas. Sopas de morcego e supostas refeições de fetos humanos aparecem de forma descontextualizada e associam, de forma negligente, a cultura chinesa ao surgimento do vírus. É importante percebermos que estranhar uma cultura que não é a nossa pode ser natural, mas inferiorizar e exotizar é um processo histórico e sociológico.
O crítico literário Edward Said (1990) escreveu o livro “O orientalismo”, onde explica a forma como o ocidente construiu determinadas imagens sobre o oriente. Segundo o autor, existe um viés político na classificação do oriente como exótico, bárbaro e inferior. Isso porque hierarquizar as culturas dessa forma abre caminho para o argumento da dominação, da intervenção direta e da violência.

O Branqueamento como Construção Nacional

Esse tipo de inferiorização também faz parte da história brasileira. No final do século XIX houve uma política de branqueamento dentro do projeto de construção da identidade nacional. Esta política visava suprimir características indígenas e africanas dos brasileiros através da miscigenação com imigrantes que chegavam para o trabalho nas lavouras de café. Nesse processo, europeus eram desejáveis, considerados geneticamente superiores e culturalmente civilizados.  Já os asiáticos não eram bem vindos, pois se levava em conta que seus costumes, muito diferentes, não permitiriam a adaptação ao Brasil.
Essa base racista no processo de construção da nação brasileira foi acirrada durante a Era Vargas (1930-1945), em que houve repressão deliberada de hábitos e costumes de estrangeiros e uma percepção negativa dos imigrantes japoneses, alemães e italianos, durante a Segunda Guerra Mundial. Situação em que o peso do fenótipo recaiu mais sobre os asiáticos do que sobre outras comunidades imigrantes. A historiadora Marcia Takeuchi (2016) mostra como as imagens dos japoneses (sujos, carrancudos, desconfiados, falsos e exóticos) eram retratadas em periódicos de circulação nacional entre 1897 e 1945.
Embora grande parte da imigração chinesa ao Brasil tenha acontecido depois de 1950, e a maioria dos asiáticos presentes antes disso fossem japoneses, essas imagens em torno do “perigo amarelo” podem ser estendidas a qualquer outra nacionalidade ou etnia asiática. Perante o desconhecimento sobre a Ásia e suas diferenças locais, o que fica como norte de classificação é a percepção geral e preconceituosa do orientalismo.

A Percepção Brasileira sobre os Chineses

A antropóloga Rosana Pinheiro Machado faz pesquisas sobre a China e afirma que as manifestações de preconceito sobre eles são recorrentes. Suas mercadorias são tradicionalmente chamadas de “infestações” e a mídia brasileira, em 2014, apresentou o país como “China, o país que assusta”. A pesquisadora também informa que há uma percepção polarizada sobre os chineses que varia entre o bárbaro – exótico, e o trabalhador dedicado, organizado e comprometido, capaz de construir um hospital em 10 dias, por exemplo.
Ainda que essa última percepção seja positiva, ela também é produzida como uma generalização, em que um ou dois aspectos da cultura é engessado e apresentado como sinônimo de “ser chinês”, e por isso, é uma outra forma de preconceito. Portanto não é de se estranhar que em 2020 as primeiras reações sobre o coronavírus tenham se fixado nessas duas imagens, tanto de deslumbre com a tecnologia e eficiência chinesa, quanto de horror com a “barbaridade” de seus hábitos e costumes.
Por outro lado, já surgiram reações em que a comunidade chinesa aparece com cartazes dizendo “Eu não sou um vírus”. Tais mensagens já percorrem o mundo, concomitantemente a textos de oposição à xenofobia, bem como avisos à variedade de fake news em torno do tema. Essa resposta rápida contra a discriminação aponta que estamos menos ingênuos com o que circula na internet, e que esta também é um espaço para desconstrução de preconceitos.

Infoenem