sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ENEM - REDAÇÃO (ANÁLISE)


Hoje, falaremos sobe a proposta de redação do ENEM 2000, cujo tema foi Direitos da Criança e do Adolescente: Como Enfrentar Esse Desafio Nacional? que, aliás, como o tema de 1999, ainda é atual, pois esta é uma questão que traz novos desafios todos os dias, já que abarca vários aspectos como saúde, educação, moradia, família, acesso à cultura, violência, drogas etc. Esta é uma característica marcante da prova de produção textual do ENEM: temas de cunho social que permanecem atuais na realidade brasileira com o passar dos anos, pois, infelizmente, são muito abrangentes e de difícil solução.
Falando nisso e abrindo um breve parênteses, leitores nos perguntam se as manifestações marcantes do mês de junho, o programa do governo federal Mais Médicos e o próprio Ato Médico podem ser tema da prova de redação do ENEM deste ano e, pela nossa experiência, pensamos que a proposta já deve estar fechada ou sendo fechada (vejam na proposta de redação do ENEM 2000, abaixo, que a charge e a notícia adaptada que fazem parte da coletânea textual são de maio e junho daquele ano, ou seja, época em que a prova estava sendo elaborada e, assim, podemos afirmar que o tema estava definido antes disso) e que, obviamente, não devemos desprezar nenhum assunto, mas propriamente estes temas talvez não sejam o alvo do ENEM 2013. Claro que há a possibilidade de haver um tema que utilize algum viés das manifestações e das polêmicas que envolvem a Medicina atualmente no Brasil e, por isso, deve-se ficar atualizado quanto a estes assuntos. Nossa dica é: não despreze nenhum assunto, nenhum tema, nenhum conteúdo de nenhuma disciplina, pois exames como ENEM e demais vestibulares são verdadeiras caixinhas de surpresas.
Voltando ao ENEM 2000, a proposta aparecia já na primeira página do caderno de prova e deste modo:
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocálos a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão”.
Artigo 227, Constituição da República Federativa do Brasil.
(Angeli, Folha de São Paulo, 14.05.2000)
(…) Esquina da Avenida Desembargador Santos Neves com Rua José Teixeira, na Praia do Canto, área nobre de Vitória. A.J., 13 anos, morador de Cariacica, tenta ganhar algum trocado vendendo balas para os motoristas. (…)
“Venho para a rua desde os 12 anos. Não gosto de trabalhar aqui, mas não tem outro jeito. Quero ser mecânico”.
A Gazeta, Vitória (ES), 9 de junho de 2000.
Entender a infância marginal significa entender porque um menino vai para a rua e não à escola. Essa é, em essência, a diferença entre o garoto que está dentro do carro, de vidros fechados, e aquele que se aproxima do carro para vender chiclete ou pedir esmola. E essa é a diferença entre um país desenvolvido e um país de Terceiro Mundo.
Gilberto Dimenstein. O cidadão de papel. São Paulo, Ática, 2000. 19a. edição.
Com base na leitura da charge, do artigo da Constituição, do depoimento de A.J. e do trecho do livro O cidadão de papel, redija um texto em prosa, do tipo dissertativo-argumentativo, sobre o tema: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional?
Ao desenvolver o tema proposto, procure utilizar os conhecimentos adquiridos e as reflexões feitas ao longo de sua formação. Selecione, organize e relacione argumentos, fatos e opiniões para defender o seu ponto de vista, elaborando propostas para a solução do problema discutido em seu texto.
Observações:
Lembre-se de que a situação de produção de seu texto requer o uso da modalidade escrita culta da língua.
Espera-se que o seu texto tenha mais do que 15 (quinze) linhas.
A redação deverá ser apresentada a tinta na cor preta e desenvolvida na folha própria.
Você poderá utilizar a última folha deste Caderno de Questões para rascunho.

No ano 2000, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) fazia dez anos de existência e, sem dúvida, foi um dos assuntos mais discutidos na mídia brasileira naquele ano e como abrange um tema social importantíssimo, os direitos da criança e do adolescente, como desafio, foi o tema da redação do ENEM daquele ano. Acreditamos que este não é um tema complexo de ser desenvolvido, pois basta ler os jornais e assistir a TV que vemos, infelizmente, todos os dias, casos que violam os direitos dos menores de idade no Brasil e a coletânea textual veio recheada de textos motivadores.
A charge de Angeli foi publicada na Folha de São Paulo no mês de maio de 2000, ou seja, o mês das mães e o dia das mães é o pano de fundo para ela, que mostra vários meninos de rua enrolados em cobertores cercados por propagandas do dia das mães e, um deles, associa a figura materna às mais marcantes personagens da infância (Papai Noel e Coelhinho da Páscoa) como não existentes, como se mães só existissem na imaginação das crianças como o Papai Noel e o Coelhinho da Páscoa e, para estes meninos, essa é a realidade, já que há muitos casos de abandono de bebês e crianças que, por diversos motivos, acabam ir morando nas ruas. A charge mostra o contraste entre a publicidade acerca do dia das mães (que em vendas perde, apenas, para o Natal) e o dia a dia dos menores abandonados, capitalismo x situação de rua, mães x órfãos.
Ao lado, a coletânea traz um dos mais célebres artigos da Constituição Federativa do Brasil, o 227, que diz respeito aos direitos da criança e do adolescente de ter assegurada, pela família e pelo Estado, saúde, alimentação, cultura, dignidade, respeito, liberdade e convivência familiar e comunitária, além de estar a salvo da negligência, discriminação, exploração, crueldade e opressão. Isto traz ao candidato a lembrança de que, além de haver menores sem acesso aos itens básicos de uma vida digna, há aqueles expostos à falta de cuidados, que são discriminados por sua etnia, classe social, religião, sexualidade etc; que são explorados, escravizados sexualmente e em questão de trabalhos forçados dos mais variados tipos (desde serviço doméstico até tarefas pesadas como trabalhar em carvoarias, lavouras, nas ruas etc) e, em consequência, são vítimas de crueldade e opressão.
A notícia adaptada do jornal capixaba exemplifica o que o artigo 227 da Constituição aborda, já que conta a situação de A.J, de 13 anos, que trabalha em uma esquina de um bairro nobre de Vitória vendendo balas, mas mora na periferia e sonha em ser mecânico, mas vê seu sonho distanciar-se ao ser obrigado, pois não gosta do que faz, a fazer isso. Trazer outros exemplos de exploração do trabalho infantil é uma excelente estratégia argumentativa para subsidiar sua tese, sua argumentação e, para isso, tem de estar atualizado ou lembrar-se do que, infelizmente, vemos todos os dias nas ruas das cidades. Explorar os motivos que levam uma criança ou um adolescente a trabalhar na rua e não a estudar também é um bom caminho; discutir o que há por detrás desta situação e suas consequências para o futuro desses jovens é um viés importante.
Esta estratégia argumentativa encontra alicerce no último texto da coletânea textual, de autoria do Gilberto Dimenstein, que discute exatamente isso: as razões de um menino estar na rua e não na escola, pois, para o autor, esta é a diferença entre ele e o garoto que está dentro de um carro com vidros fechados, ignorando ou temendo o seu igual que está à margem da sociedade e que entender esta distinção é o que diferencia um país desenvolvido de um de terceiro mundo, o que era o caso do Brasil naquele ano, pois ainda não éramos um país emergente.
Este texto da coletânea poderia ser muito bem utilizado para contemplar a quinta competência da grade avaliativa do ENEM (elaborar proposta de intervenção social); o candidato poderia propor uma solução que buscasse compreender os reais motivos da violação dos direitos da criança e do adolescente e, nesta reflexão, usar conceitos de outras áreas do conhecimento como geografia (questões populacionais como planejamento familiar – porque os mais pobres têm mais filhos – por exemplo, questões regionais, de moradia, que abordem os problemas das periferias, da falta de saneamento básico, transportes etc), história (grupos sociais historicamente marginalizados), economia (mão de obra infantil é muito mais barato do que mão de obra adulta, atividades exploratórias como carvoarias e lavouras) dentre outros, o que abarca a segunda competência da redação do ENEM.
Como o tema traz “como enfrentar esse desafio nacional?”, está intrínseco que a banca avaliadora requer uma proposta de intervenção social específica, já que questiona o candidato. Uma solução que resuma que os direitos dos menores brasileiros são violados, que pense sobre os motivos e mostre uma saída é fundamental para uma nota máxima nesta competência, além de mostrar que o candidato pode e deve ser detentor de uma opinião sobre o assunto.
Esperamos ter ajudado na análise do ENEM 2000 e, na próxima semana, abordaremos a prova de redação de 2001 cujo tema foi Desenvolvimento e Preservação Ambiental: Como Conciliar os Interesses em Conflito?. Já dê uma olhada na prova e pense a respeito acessando este link.