terça-feira, 20 de maio de 2014

Cachorra no cio




Ela é jovem demais e  foge  como uma cadela no cio, que foge de muitos cachorros. Ela quer, mas tem medo. Tem medo do desejo do cachorro. Tem medo do cachorro. Se fosse apenas um desejo, não teria tanto medo, mas o cachorro tem muitos desejos.

Ela finge estar doente, quando percebe a vontade nos olhos do cachorro; assim  mostra-se indiferente a tanto desejo. Ela vê a vontade no corpo dele, ela sente vontade, que cachorra não sentiria, já que esta está no cio. Nunca  antes teve  um cachorro. Assim,  suporta suas ânsias com tamanho sofrimento  que a leva a sonhar por longo período. 

Deita, rola, range os dentes, saliva, uiva; cachorra determinada. Espanta, late, morde o pretendente para afastá-lo. Muitas vezes constrangido e intimidado com a situação, ele fica distante por alguns minutos e, como nada quer, aos poucos vai se aproximando daquela que finge não o vê, não está nem aí.  Tudo volta como estava antes.

Agora experiente,  já deitada, ela olha ao redor. É só mais um cachorro  que entra, que a cerca, que sente seu cheiro,  que a toca e a convida para o ato, porém não precisa mais convidar, ela já está preparada para a festa. Já conheceu muitos outros cachorros.  Seus desejos, então, são muitos. Um só cachorro não dá.  Ela precisa de  matilhas  para sobreviver, para pagar suas contas.

Joerlândio Cordeiro

Nenhum comentário:

Postar um comentário