segunda-feira, 8 de abril de 2013

Odisseia, de Homero

Transposta para a literatura do século 20 por James Joyce, em Ulisses, e presente na estrutura de um sem-número de obras artísticas desde a Antiguidade em gêneros que vão do teatro às artes plásticas, a Odisseia é o que o crítico Otto Maria Carpeaux definiu como "a bíblia estética, religiosa e política dos gregos que se transformou na bíblia literária da civilização ocidental inteira". 

Continuação da Ilíada, a obra acompanha Odisseu (nome grego de Ulisses) em sua jornada de regresso à sua cidade natal, Ítaca, após a Guerra de Troia. Durante os dez anos de sua viagem, ele enfrenta a ira de deuses, a sedução de ninfas, é capturado por ciclopes e sofre o assédio de sereias, entre outras peripécias. Todo esse conjunto de acontecimentos fantásticos faz da Odisseia uma epopeia diferente da Ilíada, na qual os heróis épicos não participam de aventuras fabulosas ou enfrentam monstros e entidades anacrônicas. 


Segundo o escritor italiano Italo Calvino, uma das novidades da Odisseia foi justamente "ter colocado um herói épico como Ulisses às voltas com bruxas e gigantes, monstros e devoradores de homens". Dessa maneira, submetendo um herói, tradicionalmente um paradigma de virtudes aristocráticas e militares, às "mais duras fadigas, dor e solidão", Homero o aproxima do homem moderno. 

Assim, a persistência de Odisseu para atingir seus objetivos e sua luta contra o universo arcaico representam, em larga medida, o homem moderno em seu embate diário contra as angústias e dores de seu tempo. Lançando mão da sabedoria e do equilíbrio, mas também de astúcia, o herói constrói uma nova ordem que confronta o obscurantismo de um mundo dominado pelos caprichos dos deuses. 

A modernidade temática, construída sobre dicotomias - seja entre o mundo mítico e o mundo dos homens, seja entre a necessidade de prosseguir e os obstáculos que incitam à permanência -, encontra consonância com um registro de tipo mais realista. Esse mundo nos é apresentado por meio de uma técnica narrativa largamente empregada na literatura dos tempos modernos, a inversão temporal, segundo a qual os eventos são narrados em retrospectiva, em uma ordem não cronológica. 

O poema se inicia com a Telemaquia, uma narrativa paralela à de Odisseu, que conta a viagem de seu filho, Telêmaco, em busca do pai. Depois de passar por Pilos, na Grécia, Telêmaco encontra-se com o rei Menelau e sua mulher, Helena, que narram as façanhas de Ulisses durante a Guerra de Troia

Enquanto isso, Ulisses aporta na ilha dos feácios, depois de passar sete anos na ilha da ninfa Calipso, e conta ao rei Alcínoo suas peripécias até chegar ali. Com o apoio de Zeus e Palas Atena, mas perseguido por Poseidon, deus dos mares, o herói fora obrigado a enfrentar inúmeros obstáculos e a lutar para não "esquecer do retorno", segundo Homero. 


Com a ajuda dos feácios, Odisseu consegue chegar a Ítaca. Em sua terra natal, se faz passar por mendigo até revelar sua identidade para a esposa, Penélope, que o havia esperado, preterindo seus vários pretendentes com a desculpa de que precisava terminar de tecer um véu para a mortalha do sogro Laertes, trabalho que fazia de dia e desfazia ao anoitecer - uma imagem que, como tantas outras desse épico, ficou gravada na história.

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